A Gramática é uma área de muitos conflitos
A Complexidade dos Estudos Gramaticais
Segundo Irandé Antunes, na obra "Muito Além da Gramática" (2007), a gramática é uma área permeada por muitos conflitos. Quando se trata da Língua Portuguesa, surgem inúmeras certezas e opiniões divergentes. Infelizmente, essas divergências frequentemente levam a equívocos. Um desses equívocos parte da "crença ingênua" de que, para se tornar proficientes em falar, ler e escrever, basta estudar gramática. Outro equívoco, igualmente ingênuo, sugere que a gramática não deve ser ensinada em sala de aula. Em prol de ambos os lados, políticas de ensino e programas de intervenção ou orientação são implementados, porque, como diz Veridiana Rocha em 2008, "as dificuldades verbais das pessoas são dificuldades de gramática". No entanto, quando se trata de compreender ou redigir um texto mais complexo, fica evidente que "o saber gramática" é, inevitavelmente, insuficiente.
A Linguística está entrelaçada em nosso cotidiano, mas, quando se fala em gramática normativa, as pessoas frequentemente acreditam erroneamente que os estudiosos da Língua Portuguesa possuem um domínio absoluto da norma culta, gerando assim um conflito significativo sobre o que constitui o Português Padrão.
Assim como um advogado não é um detentor absoluto de todo o conhecimento em Direito, um administrador não é uma enciclopédia ambulante de Administração, e um engenheiro não sabe tudo sobre Engenharia (em todas as áreas), o linguista também não detém um conhecimento completo de todos os aspectos da Língua Portuguesa. Isso é especialmente válido, pois a maioria dos professores, senão todos, que dominam a gramática para o ensino, adquiriram seu conhecimento fora do ambiente acadêmico.
Em resumo, o domínio total implica conhecer cada detalhe minucioso, e se isso fosse possível apenas através de formação acadêmica, não haveria especializações ou doutorados.
Ao analisar os estudos de Pasquale Cipro Neto e Marcos Bagno (mencionados por Irandé), percebemos que eles representam áreas de pesquisa totalmente distintas. O primeiro é um estudioso purista, enquanto o segundo é um linguista. Nos estudos puristas, a língua é vista como deveria ser, ignorando sua "alteridade de língua".
Jamais devemos impor como as pessoas devem falar ou escrever, de acordo com as exigências impostas pela gramática normativa. No entanto, é vital reconhecer essas exigências, especialmente em provas, exames e processos seletivos para universidades e concursos públicos, onde a norma culta é rigorosamente aplicada.
Muitas vezes, pode ser difícil compreender por que ensinamos e aprendemos gramática, visto que grande parte do conhecimento gramatical tem pouca aplicação no dia-a-dia. A utilização de mesóclise ou ênclise na fala cotidiana pode soar estranha, sendo que essas estruturas são mais adequadas para testes, redações e contextos formais.
No entanto, o conflito gramatical surge devido às circunstâncias mencionadas anteriormente, levando as pessoas a relutarem em usar a norma padrão fora do contexto social, o que pode resultar em preconceitos linguísticos.
Irandé Antunes também descreve cinco tipos de gramática em sua obra. A primeira é a gramática que aborda o funcionamento da língua, focando na gramática internalizada que se desenvolve naturalmente através do convívio e diálogo.
Para o estudo da gramática normativa, a segunda perspectiva sugere que a língua seja ensinada tal como deve ser, oposta à terceira perspectiva que valoriza a língua como ela é. Isso porque existem usos da língua mais aceitos que outros, dependendo do poder econômico e político, determinando onde e quando essas variações podem ser usadas.
A quarta perspectiva envolve a aplicação de métodos de investigação sobre as línguas, considerando diferentes teorias gramaticais, como estruturalismo, generativismo, funcionalismo, entre outras, e como elas observam a língua.
A quinta perspectiva aborda a gramática de maneira mais descritiva ou prescritiva, dependendo da visão sobre a língua. Optar por uma dessas perspectivas implica na escolha de como a gramática será aplicada em um campo específico de conhecimento.
Em conclusão, a gramática é uma área repleta de nuances e divergências. Compreender sua complexidade e a diversidade de perspectivas pode nos ajudar a navegar melhor por essa área e apreciar a riqueza da língua portuguesa em sua variedade e evolução constante. A gramática é uma ferramenta valiosa, mas seu uso deve ser equilibrado com a compreensão das nuances linguísticas e o respeito pela diversidade de formas de expressão.