segunda-feira, 27 de abril de 2020

Por que aprendemos Português?

Por que aprendemos Português?


Falar Português no Brasil é tão comum quanto falar qualquer outra língua existente no mundo. Mas por que falamos Português e não Brasileirês? Vivemos diante dos lusitanos do outro lado do Oceano, com a ideia de que somos descendentes de Portugueses e devemos falar Português.

 

Se fosse assim, então nós usaríamos ênclise em todas as nossas orações, frases, falas e qualquer outro tipo de comunicação, pois é essa a ideia que levamos e carregamos conosco, de que falar Português é falar o Português de Portugal. No entanto, não usamos ênclise no Brasil devido ao clima tropical quente em que vivemos em nosso país. Optamos, assim, pela próclise. Quando pedimos algo, usamos o pronome antes do verbo para nos expressarmos diante do nosso ouvinte, do nosso receptor, pois soa de forma mais suave. Por exemplo, ao dizer "Me empresta seu caderno," soa mais amigável do que "Empreste-me seu caderno," que pode parecer uma ordem, algo que para os lusitanos é totalmente natural ao usar a ênclise.

 

A escolha das regras gramaticais que utilizamos no Brasil não é apenas uma questão de convenção, mas também está intrinsecamente relacionada às características geográficas e climáticas do país. O vasto território brasileiro abrange uma ampla gama de climas, que vão desde o tropical quente até o temperado, com diversas variações intermediárias. Essa diversidade climática tem um impacto significativo na articulação fonética e fonológica das pessoas e, por conseguinte, nas variações linguísticas que encontramos.

 

Um dos aspectos mais notáveis ​​dessas variações está relacionado ao uso de próclise e ênclise, uma distinção fundamental na colocação pronominal na língua portuguesa. Em regiões com climas mais quentes, como boa parte do Nordeste e do Norte do Brasil, é comum o uso predominante da próclise, onde o pronome precede o verbo. Essa escolha pode ser influenciada pelo ritmo de fala, que tende a ser mais acelerado em climas quentes, e pela busca por uma comunicação mais direta e fluida.

 

Por outro lado, em regiões com climas mais amenos, como o Sul e o Sudeste, é mais comum encontrar o uso da ênclise, onde o pronome é colocado após o verbo. Isso pode ser atribuído a uma fala com ritmo mais pausado e a uma tendência cultural para uma comunicação mais formal.

 

Além disso, a influência climática nas variações linguísticas não se limita apenas à colocação pronominal. O próprio sotaque e a pronúncia das palavras podem ser moldados pelo clima e pela geografia. Por exemplo, em regiões litorâneas, onde o clima é mais quente e úmido, é comum encontrar uma pronúncia mais aberta e relaxada das vogais. Em contraste, em regiões mais frias e secas, as vogais tendem a ser mais fechadas e pronunciadas de forma mais nítida.

 

É fundamental compreender que a língua é uma ferramenta viva e dinâmica, que se adapta às condições e às necessidades de seus falantes. As variações linguísticas influenciadas pelo clima não são erros, mas sim reflexos da diversidade e da riqueza cultural do Brasil. Essas variações enriquecem nossa língua, tornando-a mais flexível e adequada às diferentes realidades regionais.

 

Portanto, ao analisarmos as variações linguísticas em nosso país, devemos levar em consideração não apenas questões gramaticais, mas também o contexto geográfico e climático que molda a forma como nos comunicamos. Isso nos ajuda a apreciar a complexidade da língua portuguesa e a compreender melhor a diversidade cultural que caracteriza o Brasil.

 

Falar/escrever bem não significa que devemos ter o total domínio da Língua Portuguesa, até porque nossa língua está em constante modificação. O que aprendemos hoje pode mudar amanhã. No entanto, por que, então, estudar nossa língua materna? A resposta é simples: a busca pelo domínio padrão da Língua Portuguesa contribui para uma comunicação eficaz. Aqueles que buscam conhecer a língua em profundidade conseguem ler e compreender textos diversos com mais facilidade e são capazes de produzir textos bem escritos.

 

Aprendemos Português na escola principalmente para nos preparar para exames, provas e vestibulares. Isso envolve o domínio das regras da sintaxe de colocação pronominal, o conhecimento das regras de acentuação, uso correto de vírgulas e pontuações, entre outros aspectos gramaticais. No entanto, a importância vai além disso.

 

A valorização da Língua Portuguesa é fundamental para que possamos nos expressar bem. Seja na oralidade ou na escrita, a busca pelo aprimoramento linguístico é essencial. Aqueles que valorizam sua língua materna tendem a evitar o chamado "internetês," que tem se difundido nas redes sociais. Além disso, o domínio da gramática normativa é essencial para lidar com outras disciplinas em diferentes áreas de estudo, desde a Educação Básica até o Ensino Superior.

 

A língua é viva, e compreender suas nuances nos permite interagir melhor em nossa sociedade, que é rica em variações linguísticas. Portanto, estudar Língua Portuguesa não se resume a preparação para provas, mas sim a uma busca constante pelo aprimoramento da comunicação e compreensão em um país de vasta diversidade cultural e linguística.

 

Concluindo, falar Português no Brasil não é apenas uma questão de aplicar regras gramaticais, mas também requer conhecimentos sociolinguísticos. Isso se torna essencial para que as pessoas evitem constrangimentos e respeitem as diversas formas de falar presentes em nosso país.

 

A história da língua portuguesa no Brasil é marcada por uma rica tapeçaria de influências. Desde os primeiros contatos linguísticos com as línguas indígenas e africanas até a chegada dos imigrantes europeus e asiáticos no século XIX, nossa língua foi temperada por uma diversidade de povos e culturas. Essa mistura resultou no rico conjunto de sotaques e variações linguísticas que encontramos hoje.

 

Portanto, é fundamental reconhecer que não existe um "Português padrão" no Brasil, mas sim uma multiplicidade de formas de expressão linguística, cada uma com suas peculiaridades e riquezas. Falar sobre o sotaque alheio, fazer gracinhas ou julgar a forma como alguém se expressa é não apenas desrespeitoso, mas também demonstra uma falta de compreensão da riqueza cultural e linguística do nosso país.

 

Nossa língua é viva, dinâmica e moldada pelas experiências e influências de seus falantes ao longo da história. Portanto, ao invés de julgar, devemos celebrar essa diversidade linguística e aprender com ela. Ao fazermos isso, contribuímos para a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa, onde todas as formas de expressão são valorizadas e reconhecidas como parte integrante do nosso patrimônio cultural.