sábado, 28 de março de 2020

A forma verbal nas palavras não é por acaso

  A forma verbal nas palavras não é por acaso
     Quando estávamos na Alfabetização (primeiro ano do primário para os mais novos), aprendemos os nossos primeiros vocabulários marcantes em nossa vida, pois foi ali que começou nossa formação intelectual enquanto estudante.
    Como bem lembramos, aprendemos lá na Alfabetização com a “professora Joaninha” (pelo menos era a da minha turma) que, para a palavra virar plural, bastava acrescentar a letra “s” ao final do vocábulo. Lindo! Fácil! “Aluno” mais “s” fica “alunos”, lógico, não é mesmo? Acrescentou-se o “s” e a palavra virou plural.
    Porém um aluno superdotado, intelectual e crítico quanto aos ensinamentos de Língua Portuguesa da professora Joaninha, fez um breve comentário pertinente em que, chamou atenção não só da professora, como dos outros alunos, colegas de classe que ali estavam.
    Joãozinho faz um comentário à professora – oh, tia, se a senhora está dizendo que para a palavra virar plural é só acrescentar a letra “s”, quando a minha mãe me pedir para comprar pão, eu vou pedir “pãos” – e logo em seguida pergunta – por que o plural de pão é pães e não pãos, já que a senhora está dizendo que é só colocar a letra “s”? – pois bem, como já disse Marcos Bagno: “nada na língua é por acaso”, ou seja, tudo na língua portuguesa tem uma explicação, basta procurar.
    Foi o que a professora fez naquele momento. Foi preciso buscar na etimologia da palavra pão para entender o porquê de o plural de pão ser pães e não pão. Como já sabemos, nós fomos colonizados por portugueses, e a linguagem não nasceu, assim, por acaso, houve uma grande transformação na língua até chegar ao português, pois o latim e o grego são as línguas que mais derivaram as palavras da língua portuguesa, foi o que houve com a palavra pão.
    Assim como a maioria das palavras da língua portuguesa, pão vem do latim <pane> que, por sua vez, quando acrescentava-se a letra “s” ficava <panes> palavra com a colocação do “s” no final para virar plural. Acontece que, a nossa língua, é uma língua que está em constantes modificações, ou seja, “pane” até virar “pão” sofreu várias modificações que os estudos dos sons da fala explicam.
    Na fonética e fonoaudiologia do português, é explicado toda etimologia da palavra pão que, quando latim, era “pane”, palavra paroxítona e com marca de nasalidade no fonema medial. Por isso que, quando se transformou na língua portuguesa, ela veio com um “til” que marca a nasalidade, ou seja, em “pane” havia a nasalização na primeira sílaba com a consoante da segunda sílaba e, para que não perdesse esse sentido de nasalidade, foi-se acrescentado o “til” na palavra em português, tanto no plural, quanto no singular – pão = (ã) e pães = (ã).
    Conclui-se, então, que, as palavras que, quando estão no plural, mudam suas terminações, como é o caso muito bem exemplificado da palavra pão, não são colocações por acaso, tudo tem uma explicação e, é na etimologia da palavra com as regras de fonética e fonoaudiologia que se encontrarão a explicação para certos vocábulos que alternam suas estruturas na forma verbal, assim, compreender-se-á de forma mais plena o porquê de certas palavras.
    Além de nos mostrar que a língua portuguesa é uma entidade viva e em constante evolução, o exemplo do plural da palavra "pão" nos leva a refletir sobre como as palavras carregam consigo a rica história de nossa língua e cultura. Cada palavra é um fragmento do passado, uma conexão com nossos antepassados e os povos que influenciaram nossa língua ao longo dos séculos.
    É fascinante pensar que, por trás de cada pequena regra gramatical ou exceção, existe uma narrativa que remonta às origens da língua portuguesa. Assim, quando nos deparamos com peculiaridades como o plural de "pão", somos lembrados da complexidade e beleza que existem na estrutura de nossa língua.
    Portanto, ao estudarmos a língua portuguesa, não apenas aperfeiçoamos nossas habilidades de comunicação, mas também mergulhamos em uma jornada através do tempo, explorando as influências culturais e as mudanças linguísticas que moldaram a forma como nos expressamos hoje. Isso nos lembra que a linguagem é muito mais do que um conjunto de regras; é uma janela para a riqueza de nossa herança cultural e histórica.