segunda-feira, 27 de junho de 2016

Brasilianos ou Brasilotos?

CAMPANHA PELO FIM DO SUFIXO EIRO PARA VIRARMOS BRASILIANOS OU QUEM SABE BRASILOTOS.

O texto a seguir, de autoria de Luís Fernando Veríssimo, é muito interessante, pois tangencia a questão da auto-estima dos brasileiros.

Um grande a abraço a todos e boa leitura.

A leitora Elza Marques Martins me escreve uma carta divertida estranhando que “brasileiro” seja o único adjetivo pátrio terminado em “eiro”, que, segundo ela, é um sufixo pouco nobre. Existem suecos, ingleses e brasileiros, como existem médicos, terapeutas e curandeiros. As profissões de lixeiro, coveiro e carcereiro podem ser respeitáveis, mas o “eiro” é sinal de que elas não têm status. É a diferença entre jornalista e jornaleiro, entre músico ou musicista e roqueiro, timbaleiro ou seresteiro. Há o importador e o muambeiro. “Se você começou como padeiro, açougueiro ou carvoeiro” — escreve Elza — “as chances são mínimas de acabar como advogado, empresário, grande investidor ou latifundiário, a não ser que se dê ao trabalho político antes”. Aliás, há políticos e politiqueiros. Continua Elza: “Eu nunca vou chegar a colunável ou socialite se comecei como faxineira ou copeira. Você pode ser católico, protestante, maometano, budista ou oportunista ou então macumbeiro.” Mas a leitora nota que o dono do banco é banqueiro, enquanto o funcionário é bancário, o que pode ser um julgamento inconsciente de caráter feito pela língua.

Elza — que por sinal se considerava uma harpeira até começar a tocar numa sinfônica e virar harpista — me sugere uma campanha nacional para passarmos a nos chamar de “brasilinos, brasileses, brasilenses, brasilianos, brasilitanos, brasilitas, brasileus, brasilotos ou brasilões”, o que aumentaria muito nossa auto-estima e nossas chances de chegar ao mundo maravilhoso dos americanos, belgas e monegascos.”



Luís Fernando Veríssimo. Jornal do Brasil, 7 de Outubro de 1995.

Minhas considerações:

É interessante notar como a língua pode ter um impacto sutil, mas significativo, em nossa percepção de nós mesmos e de nossa cultura. O ponto levantado por Luís Fernando Veríssimo sobre o sufixo "eiro" em "brasileiro" é uma reflexão divertida sobre como as palavras podem influenciar nossa autoestima e a maneira como nos vemos.

A sugestão de Elza Marques Martins para uma campanha nacional que nos chamaria de "brasilinos, brasileses, brasilenses, brasilianos, brasilitanos, brasilitas, brasileus, brasilotos ou brasilões" destaca a importância da linguagem na construção de nossa identidade e autoimagem. Essas novas terminações nos dariam um senso renovado de orgulho e pertencimento, afastando-nos da ideia de que o "eiro" nos coloca em uma categoria inferior.

No entanto, é importante lembrar que, independentemente do sufixo que usamos para nos descrever, o verdadeiro valor de nossa cultura e identidade vai muito além das palavras. Somos uma nação rica em diversidade, história e potencial, e nossa autoestima deve ser fundamentada nesses aspectos profundos e significativos.

Esta reflexão nos lembra que, embora a linguagem possa moldar nossas percepções, é nossa responsabilidade escolher como interpretamos e abraçamos nossa própria identidade. Talvez, em última análise, sejamos todos "brasileiros" e, ao mesmo tempo, algo muito maior e mais complexo do que qualquer sufixo possa expressar. A língua é uma ferramenta poderosa, mas nossa verdadeira riqueza está em nossa cultura, em nossas ações e em nossa capacidade de criar um futuro melhor para todos nós.