quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Operários - Tarsila do Amaral (1933)

OPERÁRIOS – TARSILA DO AMARAL (1933)


Tarsila do Amaral e sua Vanguarda nas Cores e na Consciência Social

Para apreciar a obra "Operários" (1933) de Tarsila do Amaral, é essencial começar com uma breve exploração da vida e obra da artista. Tarsila é uma figura icônica do movimento modernista brasileiro e uma das precursoras do cubismo nas artes do Brasil. Suas pinturas muitas vezes se destacam pelo uso vibrante de cores, como o azul puríssimo, o rosa violáceo, o amarelo vivo e o verde.

Nascida em 1º de setembro de 1886 no interior de São Paulo, Tarsila teve o privilégio de estudar na Europa quando ainda era adolescente, onde teve contato com as obras dos dadaístas e futuristas. Foi por meio de sua amiga Anita que ela se aproximou dos modernistas brasileiros, incluindo Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Juntos, eles formaram o famoso "Grupo dos Cinco". Posteriormente, Tarsila iniciou um relacionamento com Oswald de Andrade e os dois viajaram juntos para Paris, onde a artista mergulhou no estudo do cubismo.

Mais tarde, em uma viagem à ex-União Soviética, Tarsila teve um despertar social ao entrar em contato com o socialismo. Esse período coincide com uma era de transição econômica e social no Brasil, com a década de 1920 marcada por revoltas e a transição do regime republicano para a Era Vargas, um período de forte controle estatal e industrialização. Tarsila enfrentou a prisão temporária devido ao seu envolvimento em reuniões esquerdistas e sua visita a um país comunista.

Essa experiência na União Soviética moldou a visão de Tarsila sobre o mundo social, e sua pintura "Operários" (1933) é uma reflexão vívida desse período. A tela captura o início da industrialização no Brasil e se destaca como um testemunho da fase social da artista. Os rostos representados na pintura são variados, com expressões que refletem cansaço, seriedade e tristeza. Nenhum sorriso é visível, pois esses operários estão imersos em um trabalho árduo, onde a alegria parece ausente. Seus olhares fixos parecem nos convidar a compartilhar sua experiência de trabalho árduo e dificuldades.

Além dos rostos, o plano de fundo da pintura exibe fábricas e indústrias, situando-a em um contexto social intenso. Isso representa a elite industrial que, por meio das expressões faciais dos personagens, retrata a opressão enfrentada pela classe operária. A pintura também ecoa as más condições de trabalho, agravadas pela repressão da Era Vargas, que via no comunismo uma ameaça ao seu poder.

A diversidade dos rostos na tela representa uma variedade de culturas e origens. Essa classe operária reflete um povo cansado do trabalho árduo nas fábricas urbanas, muitas vezes migrando das áreas rurais para as grandes cidades em busca de emprego e uma vida melhor. Suas expressões não apenas transmitem cansaço, mas também a insatisfação com as condições precárias de vida nas cidades.

A pintura de Tarsila não é apenas um reflexo do passado, mas também ressoa com questões sociais contemporâneas. As preocupações com a opressão das elites industriais, o desemprego devido à automação e a migração para centros urbanos ainda são temas relevantes em nossa sociedade.

Além disso, a pintura não se limita a representar apenas os trabalhadores humildes; também apresenta figuras intelectuais, como Mário de Andrade no centro da imagem e Oswald de Andrade no canto superior. Isso destaca a diversidade social e étnica presente na sociedade da época, bem como a luta coletiva contra a opressão industrial.

Tarsila do Amaral, por meio de sua obra "Operários", construiu uma narrativa poderosa sobre a identidade cultural e social do Brasil durante um período de rápido desenvolvimento industrial. Ela nos faz refletir sobre as complexidades e desafios enfrentados pelas classes trabalhadoras e como essas questões continuam a ressoar em nosso mundo contemporâneo. A pintura é um testemunho atemporal da evolução das grandes cidades, do avanço tecnológico e das questões sociais que moldaram e ainda moldam nossa sociedade.

Operários e a Resiliência Humana no Contexto Moderno

A tela "Operários" (1933) de Tarsila do Amaral nos transporta para uma época de intensa transformação social e industrial no Brasil, mas também nos convida a refletir sobre a resiliência humana em face das adversidades. Vamos aprofundar ainda mais essa análise e explorar como essa obra se relaciona com o Brasil contemporâneo.

A pintura de Tarsila, como mencionado anteriormente, é uma poderosa representação da classe operária da época, com uma multiplicidade de rostos que refletem não apenas a diversidade étnica, mas também a diversidade de experiências e desafios que as pessoas enfrentavam. Esses operários migraram para as grandes cidades, como São Paulo, em busca de oportunidades de trabalho, mas frequentemente se viram submetidos a condições de trabalho precárias e a uma vida difícil.

Essa migração em massa e a urbanização acelerada são temas que ainda ecoam em nossa sociedade atual. Grandes centros urbanos, como São Paulo, continuam a atrair pessoas de diversas origens em busca de uma vida melhor. A pintura de Tarsila nos faz questionar como essas cidades estão lidando com o crescimento populacional, a demanda por empregos e a qualidade de vida de seus habitantes.

Além disso, a substituição do trabalho humano pela máquina, que a pintura sugere, é um tema que permanece atual. Com os avanços tecnológicos, continuamos a ver mudanças na indústria que afetam o emprego humano. A questão do desemprego devido à automação é uma preocupação global, e a representação de Tarsila dos rostos preocupados e cansados dos operários nos lembra das implicações humanas dessa transformação.

É interessante observar que, além dos trabalhadores comuns, a pintura também inclui figuras intelectuais, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Isso reflete a convergência de diferentes camadas da sociedade em torno das questões sociais da época, um aspecto que ainda é relevante hoje. As lutas sociais e políticas não são limitadas a um grupo específico; elas envolvem uma ampla gama de pessoas de diferentes origens.

A pintura "Operários" não apenas registra o contexto social da época, mas também ressoa com questões contemporâneas, como a busca por igualdade no mercado de trabalho, a inclusão de pessoas com deficiências e a diversidade cultural. Tarsila do Amaral nos lembra que as questões sociais e as lutas por justiça são atemporais e continuam a moldar nossa sociedade.

Em resumo, "Operários" é mais do que uma simples pintura; é uma janela para o passado que nos permite entender melhor o presente. Tarsila do Amaral capturou a essência das lutas e desafios enfrentados pelas classes trabalhadoras em um momento de profunda transformação no Brasil. Sua obra nos convida a refletir sobre como as questões sociais e industriais do passado ainda ecoam em nossa sociedade contemporânea e nos desafia a considerar como podemos abordar essas questões de maneira eficaz no futuro.

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